Você está se expondo ou se posicionando?
Da violência em Sydney ao posicionamento interior
No último final de semana, um ataque a facadas deixou sete pessoas mortas em Sydney. A tragédia aconteceu dentro de um shopping no centro comercial. Um lugar muito frequentado por quem mora perto das praias do sul, inclusive eu. A situação causou uma comoção geral na cidade. O susto foi grande, já que esse tipo de violência é raríssimo na Austrália.
Nessas situações, difícil não se colocar no lugar, principalmente com uma probabilidade alta de ter acontecido com a gente: e se fosse eu? Vendo algumas cenas das câmeras do shopping, percebemos que algumas pessoas encararam o homem, tentando pará-lo. O que me fez refletir: diante do perigo, você avança, fica ou corre?
É muito comum eu ver pessoas com estado de consciência alterado no meu dia a dia. Tem gente conversando sozinha, gente que me dá susto, gente que me dá língua, gente que gargalha pro nada. Na rua, no transporte público. Geralmente minha reação é não me afastar e me manter numa postura firme. O que me deu uma ansiedade reversa. Seria eu uma vítima? Estaria me expondo?
Sei que dessa vida a única coisa certa é a morte. Ainda assim, a evitamos. A tememos. A questionamos. Não queremos ser os próximos. Mas, às vezes, vivemos na beira do abismo. Teria outro jeito? Vamos fazendo como achamos certo, ao mesmo tempo que sendo empurrados do jeito que é. A gente pensa, e pensa, até que o momento exige o reflexo, o que é, o que não passa pelo pensamento. E a gente age.
E seguimos agindo. Falamos ou não sobre o acontecido? Qual sua opinião sobre? Como isso te afetou? Qual sua posição nas redes sociais? Você ainda usa o Facebook? Vai abrir uma conta no TikTok? Independente da resposta, a gente faz o que acha melhor. Não porque somos bons. Mas porque queremos viver.
Também queremos nos preservar. Ainda dá pra guardar segredo? O que compartilhar? Será o fim do pensamento privado? Esses dias, vi uma influencer, dessas que posta muitas coisas por dia e os stories estão sempre cheio de pontinhos, dizendo que ela era low profile. Quando perguntaram por quê, ela falou que era porque não postava coisas íntimas. Era diferente postar um estilo de vida do que postar pensamentos, opiniões, relação dela com outras pessoas.
Achei curioso, já que para mim postar o que eu faço me soa muito mais íntimo do que o que eu penso. Porque o que eu faço já passou pelos pensamentos e se materializou. Enquanto os pensamentos são mutáveis e menos pessoais. Tem gente que acha muito íntimo tomar banho juntos, enquanto outros acreditam que assistir Netflix juntos ou compartilhar um jantar é o ápice da intimidade.
No fundo, estamos sempre nos relacionando conosco. E enfrentando nossos monstros. Para quem não é íntimo do assunto, tudo o que você faz e mostra pode soar exposição. (Imagina Taylow Swift se ofender com um adjetivo desse?!) Mas, pra quem faz, pode ser uma questão de sobrevivência: é preciso saber se posicionar. Com as armas que temos. Ditar nosso lugar na vida me parece um bom caminho para encarar o fim dele.